segunda-feira, 23 de março de 2015

Planejamento de intervenções - Revista Educação

Para Molinari, é fundamental que no processo de alfabetização o professor saiba ouvir e observar
Como meus alunos podem aprender a escrever se primeiro não lhes ensino as letras? Como ensino a escrever sem exercitar antes os sons e a pronúncia? Já sei que é necessário escutar as respostas das crianças e interpretar as escritas não convencionais para poder intervir como professor para ensinar, mas como faço isso? 

Se você é professor alfabetizador, certamente já foi incomodado por alguma dessas perguntas. Todas elas, segundo a professora de Ciências da Educação da Universidade Nacional de La Plata e coordenadora do Programa Leitura e Escrita na Alfabetização Inicial de Buenos Aires, Cláudia Molinari, estão relacionadas ao conhecimento da forma como as crianças constroem o conceito da escrita. "Com esse conhecimento o professor pode fazer intervenções conscientes e permitir que a criança complete o processo que a levará a alfabetizar-se", esclarece. 
Construir o conhecimento desse processo tem relação direta com o uso de estratégias e a criação de um ambiente que favoreça a alfabetização. "Uma estratégia é expor as crianças a materiais escritos em diferentes gêneros e estimular, por meio de atividades de registro, que reflitam sobre sua própria escrita e troquem informações com seus colegas. Esse procedimento, quando feito com a ajuda de intervenções conscientes dos professores e acompanhado de um ambiente propício, com disponibilidade e uso de materiais escritos e gráficos, permite que a criança tenha uma alfabetização autônoma e liberta da necessidade de aprender os sons e as letras de maneira formal anteriormente", teoriza a professora argentina.
Neste contexto, ela enumerou algumas das atividades e comportamentos que os professores devem desenvolver em sala de aula para facilitar a alfabetização: 

- Toda vez que requisitar a escrita de alguma palavra, o professor deve solicitar que a criança interprete aquilo que leu, a levando a pensar na estratégia de escrita que usou; 

- O professor pode pedir que a criança coloque uma letra que está faltando na palavra, para isso pode mostrar imagens ou mencionar outras palavras que contenham aquela letra; 

- Expor as possíveis contradições na escrita da criança e solicitar que ela a reformule a partir da reflexão e não escrever por ela; 

- Facilitar, no contexto da produção escrita, o intercâmbio de idéias entre as crianças por meio do confronto das diferenças de escrita de uma mesma palavra. É importante sempre pedir justificativas das hipóteses surgidas; 

- Introduzir informações sobre o funcionamento do sistema de escrita, tanto de forma direta, como indireta, pedindo, por exemplo, que as crianças procurem informações sobre a escrita em materiais disponíveis na sala de aula ou escrevendo no quadro palavras similares àquela que se está tentando ensinar.

Todas essas estratégias, de acordo com Molinari, visam a construir na criança uma necessidade pessoal de interpretação da sua escrita e um comportamento investigativo sobre suas dúvidas que o leve a autonomia no processo de alfabetização. 

"Embora seja difícil para os professores, é preciso, muitas vezes, permanecer em silêncio, apenas observando os comentários e reações das crianças durante a produção textual. Só assim é possível oportunizar a aprendizagem com intervenções conscientes", explica. 

Segundo ela, por muito tempo na história da Educação, as dificuldades de aprendizagem na alfabetização eram justificadas como incapacidade da criança. "Hoje vemos que há uma relação direta entre as estratégias e a formas de ensino adotadas pelos professores e o aprendizado real. É preciso ter uma visão de conjunto e refazer o projeto pedagógico e o planejamento constantemente. A boa alfabetização depende de se criar no professor essa prática cotidiana de observação e intervenção consciente", finalizou.
 Fonte: Revista Educação

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